Algumas empresas, como a Amazon, brincam com o assunto, enquanto outras já começam a levar a ideia bem a sério. Mas o Google, como sempre, quer mais. E com o anúncio do Project Wing, a empresa deu mais uma indicação de que está disposta a entrar no mundo do comércio eletrônico com seu próprio sistema de entrega de mercadorias usando drones, robôs voadores que parecem ser a nova febre do momento.
Os detalhes do programa foram anunciados nesta sexta-feira (29). O projeto ainda está em pleno desenvolvimento pelo Google X, o laboratório de pesquisas avançadas da empresa que já nos trouxe ideias bastante surpreendentes e tem certa liberdade para trabalhar dentro da estrutura da companhia. Foi justamente essa abertura que levou os envolvidos na empreitada a deixarem os Estados Unidos por um mês e seguirem para a Austrália, onde os primeiros testes com os drones aconteceram ao longo do mês de agosto.
Quem viu o vídeo original da Amazon sabe mais ou menos como uma entrega por robôs funciona, mas aqui, as coisas são um pouco diferentes. Com um design um pouco mais avançado – um híbrido entre avião e helicóptero, como definem os criadores – o drone do Google tem asas rotativas que se movem nos modos de decolagem, aterrissagem e pouso, além de entregar as mercadorias por meio de um cabo, em vez de descer ao chão junto com o pacote.
O segredo para essa mudança está no “egg”, um componente na parte inferior do modelo que libera a caixa amarrada a um cabo e é capaz de detectar a distância até o solo. Uma vez que o produto se aproxima, a velocidade da descida é diminuída de forma que o pacote toque sutilmente o chão, seja desacoplado, e o cabo se enrole novamente no drone, que pode seguir sua viagem. A ideia é dar maior eficiência, já que se manter nas alturas é mais econômico do que pousar e decolar o tempo todo.
A escolha do território australiano para os experimentos faz sentido, já que o país tem regras mais frouxas com relação ao voo de aeronaves não-tripuladas, principalmente em áreas pouco populosas, como a zona rural onde aconteceram os testes. É por isso mesmo que o Google não gosta muito de chamar seus modelos de drones, preferindo designá-los como “veículos que voam sozinhos”.
Mudança nos padrões e aceleração
A ideia do Project Wing surgiu em 2012, quando a empresa começou a pensar em expandir suas operações para além do mundo digital. Já consolidada em serviços web e cloud computing, veio a ideia de tentar melhorar a vida das pessoas, garantindo entregas mais rápidas no e-commerce e, claro, firmando a própria presença nesse mercado no processo. Na liderança está Nick Roy, um especialista em robótica do MIT que deixou a instituição por dois anos para trabalhar exclusivamente na ideia.
O grupo responsável pelo projeto é composto por doze funcionários do Google. O próprio Roy, agora, retorna à instituição de ensino e deixa o Project Wing nas mãos daqueles que trabalharam com ele nos últimos dois anos. As bases da ideia já estão firmadas, o projeto funciona e, agora, é só uma questão de aprimorá-lo e torna-lo útil para empresas e usuários.
Mais do que aumentar a velocidade das entregas, o Google parece ter também uma preocupação com o meio-ambiente, um conceito capitaneado pelo próprio fundador Sergey Brin. A ideia também é reduzir ao máximo as emissões de carbono do e-commerce, dispensando o uso de caminhões e outros meios e substituindo-os por robôs que são movidos a eletricidade e não causam danos à natureza.
Mais do que isso, a ideia mais ambiciosa ainda do Google é mudar a forma como as pessoas lidam com as coisas que têm em casa. Como explica o The Atlantic, é uma ideia de “produtos como serviços”, que seriam alugados e não mais comprados, com entregas rápidas e dinâmicas. Nada mais de comprar uma furadeira para usar uma única vez, ou deixar baterias extras descarregando na gaveta sem nunca serem usadas.
A ideia de mudar a relação das pessoas com os artigos pode ser um pouco ambiciosa demais. Por outro lado, o Project Wing parece realmente funcionar, tomando inspiração de aviões militares antigos, capazes de decolar sem a necessidade de uma pista, e com velocidade suficiente para entregar mercadorias em algumas horas após o pedido.
Mas acima de tudo isso, como também aponta o The Atlantic, a entrada do Google nesse mundo deve acelerar não apenas o mercado de entregas por drones em si, mas também aumentar a pressão sobre normas melhores para reger esse segmento. Temos, agora, uma das grandes empresas mundiais dispostas a entrar de cabeça nesse mundo, e com propostas que parecem funcionar.
É claro, ainda estamos bem longe de vermos qualquer tipo de ideia desse tipo sendo aplicada no mundo real, já que ela envolve não apenas o desenvolvimento em si dos drones e a regularização do segmento, mas também investimentos em infraestrutura por parte das empresas que vão utilizar esse método. A entrada do Google, porém, representa um grande passo nesse sentido e, com certeza, vai colocar os outros players do mercado para correr, seja para estarem à frente, ou então, para alcançarem a companhia.
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